Goiana diz que foi abusada sexualmente por João de Deus quando estava grávida

10 de dezembro de 2018

Ela afirma que caso ocorreu há 12 anos, em Abadiânia. Mulher disse que se sentiu encorajada a denunciar depois que viu o testemunho de outras vítimas que também relataram abusos praticados pelo médium.

Uma mulher que não quis ser identificada afirmou, em entrevista exclusiva à TV Anhanguera, no domingo (9), que foi abusada sexualmente pelo médium João de Deus quando estava grávida, há 12 anos, em Abadiânia, na região central de Goiás. Ela afirma que se sentiu encorajada a denunciar o caso depois de ver o depoimento de outras vítimas durante o programa Conversa com Bial, da TV Globo, e que irá procurar o Ministério Público.

A mulher contou que é de família espírita e havia ido à Abadiânia conhecer o trabalho da Casa de Dom Inácio, onde o médium realiza os atendimentos. Ela afirma que se sentiu bem no local, que sentia uma energia boa, até que, um dia, quando estava grávida, foi chamada por João de Deus para uma sala íntima para que fosse atendida em particular. Ela tinha 26 anos.

“Era só ele na sala, e ele trancou a porta e pediu para eu fechar os olhos, que a partir daquele momento ele ia realizar uma limpeza. Foi pegando a minha mão e puxando e levando em direção à virilha. E eu assustei, puxei a mão. Foi quando ele falou ‘olha, você não precisa ter medo, porque o que nós estamos trabalhando aqui é uma entidade que te possui sexualmente e tem muito ciúme de você. Isso que eu estou fazendo, esse contato físico que nós estamos tendo, é justamente para que esta entidade mostre a cara dela. E só desta forma, com este contato, que nós vamos conseguir te libertar”.

“E aí ele abriu a camisa, e pegou minha mão de novo, com força, firme, e começou a passar no peito dele. Na hora você não tem força, você não tem autoridade diante de uma pessoa enviada, com uma missão divina, de discutir com isso”, desabafou a mulher.

O advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou que o cliente nega as acusações e que ele está à disposição da Justiça para esclarecimentos. (veja íntegra do posicionamento da defesa no fim da reportagem).

O jornal “O Globo”, na TV Globo e no G1 têm publicado nos últimos dias relatos de dezenas de mulheres que se sentiram abusadas sexualmente pelo médium. Não se trata de questionar os métodos de cura de João de Deus ou a fé de milhares de pessoas que o procuram.

Após as denúncias, o Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) e a Polícia Civil goiana instauraram investigações, com o objetivo de identificar outras mulheres que afirmam ser vítimas e apurar a vida do médium. Conforme relatos colhidos até o último sábado (8), os abusos sexuais teriam ocorrido dentro no local desde a década de 80 até outubro do ano passado.

De acordo com o promotor Luciano Miranda Meireles, com a quantidade de mulheres que já relataram crimes, a Casa de Dom Inácio pode ser interditada.

“No âmbito cível, será possível até mesmo a interdição do estabelecimento. No âmbito criminal, pelo número que nós temos até agora, de 10 vítimas, estas penas podem chegar a até 150 anos. Embora os relatos sejam parecidos, não são o mesmo crime, nós temos o crime de estupro, crimes de abuso sexual mediante fraude, e crime de estupro de vulnerável, cada uma com a sua particularidade. Então a gente tem que analisar, a pessoa tem que dar o seu depoimento”, explicou.

A delegada Marcela Orçai, assessora de imprensa da Polícia Civil de Goiás, disse que uma força-tarefa foi instaurada para investigar o médium por violência sexual. “O que é preciso é que, além das denúncias que foram feitas, dos boletins de ocorrências, que a vítima também colabore durante os depoimentos, seja em outro estado, seja vindo a Goiás”, afirmou.

O MP-GO informou que já existiam denúncias contra João de Deus desde 2010. Em 2012, ele chegou a ser julgado por abuso sexual, mas foi inocentado por falta de provas. A promotora Gabriela Manssur, de São Paulo, conta que, depois que as denúncias foram exibidas no Conversa com Bial, já foi procurada por mais de 200 mulheres que também fazem relatos semelhantes.

“Vai ser feita uma força-tarefa para ouvir todas as mulheres e encaminhar para o Ministério Público de Goiás”, disse.

João de Deus nega acusações

O advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou que o cliente nega as acusações e que ele está à disposição da Justiça para esclarecimentos.

“Muito enfaticamente ele nega. Ele recebe com indignação a existência dessas declarações, mas o que eu quero esclarecer, que me parece importante, é que ele tem um trabalho de mais de 40 anos naquela comunidade, atendendo a todos os brasileiros, gente de fora do país, sem nunca receber esse tipo de acusação”, disse.

Além disso, o advogado esclareceu que o padrão de João de Deus era atender a todos em grupo. “Eventualmente atendeu alguma pessoa, alguma autoridade sozinho, isso é um episódio localizado. Mas pessoas, mulheres, crianças em geral, eram atendidas coletivamente diante de um grande número de pessoas”, continuou.

Por fim, disse que o cliente vai colaborar com as investigações. “Amanhã mesmo [segunda-feira, 10] nós vamos nos dirigir às autoridades judiciárias da cidade de Abadiânia para dizer que ele está à disposição da polícia, do juiz, do Ministério Público para ser ouvido em qualquer momento”, disse.

“Achamos que tudo isso deve ser objeto de uma investigação marcada pela seriedade e nós esperamos que isso aconteça para que a verdade venha à tona”, concluiu Toron.

No sábado (8), a assessoria de João de Deus já havia dito, em nota, que “há 44 anos, João de Deus atende milhares de pessoas em Abadiânia, praticando o bem por meio de tratamentos espirituais. Apesar de não ter sido informado dos detalhes da reportagem, ele rechaça veementemente qualquer prática imprópria em seus atendimentos”.

Trajetória do médium

João Teixeira tem seguidores famosos e já recebeu visita de personalidades como a apresentadora americana Oprah Winfrey. Ele foi apadrinhado por Chico Xavier e, antes de fundar a Casa Dom Inácio, em 1976, peregrinava pelo país fazendo cirurgias espirituais, segundo reportagem do jornal “O Globo”.

No início do seu trabalho, João de Deus foi alvo de denúncias de exercício ilegal da medicina. Depois, também foi acusado de sedução de uma menina menor de idade. Foi absolvido por falta de provas.

De acordo com a revista “Época”, o religioso já foi acusado também de atentado ao pudor, contrabando de minério e assassinato. Em nenhum dos casos foi julgado culpado.

Ele nasceu em Cachoeira da Fumaça (GO), filho de um alfaiate e uma dona de casa. Estudou até o segundo ano do ensino fundamental. Tem 11 filhos – cada um com uma mulher diferente. A revista “Época” diz que alguns deles são evangélicos, e não seguem a espiritualidade atribuída ao pai. João de Deus rejeita o rótulo de santo ou de ser um homem especial.

 

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